Qual a relação do pantaneiro com o trabalho? Como está a saúde mental deste público? Com o intuito de responder essas questões professores e alunos da Universidade Católica Dom Bosco (UCDB) foram a campo e puderam fazer uma análise da realidade de quem vive na maior planície alagável do planeta. O resultado deste trabalho é inovador e compõe o primeiro livro produzido sobre o tema no mundo — “Saúde do trabalhador do Pantanal de Aquidauana, MS, Brasil: Diagnósticos e propostas de intervenção”.

A obra foi lançada na noite desta quinta-feira (13) na livraria Le Parole, em Campo Grande, e teve como organizadoras a professora da UCDB Dra. Liliana Andolpho Magalhães Guimarães, coordenadora do Laboratório de Saúde Mental e Qualidade de Vida do Trabalhador da Instituição, e a pós-doutora formada pelo Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Católica e professora da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS), Ednéia Cerchiari. 

Composto por 12 capítulos, o livro traz artigos científicos que traçam um diagnóstico dos trabalhadores pantaneiros e também propõem intervenções para a melhoria do bem-estar deste público. “De 2015 a 2017 percorremos 11 fazendas no Pantanal que ficam na região de Aquidauana e conversamos com aproximadamente 70 trabalhadores. Ao ter esse contato com eles foi possível perceber um cenário preocupante quando se fala em saúde mental — muitos têm depressão, ansiedade e apresentam sintomas psicossomáticos como dores de cabeça e de estômago. Não só o público masculino, mas também as mulheres sofrem desses males, muitas vezes pela insatisfação de morarem no campo, onde o acesso às coisas é mais difícil”, expôs Liliana.

Para a produção da obra foi montada uma força-tarefa que envolveu não só as organizadoras, mas também as professoras da Católica Dra. Luciane Pinho de Almeida e Dra. Maria Aparecida Canale Balduíno e nove alunos inseridos na iniciação científica, mestrado e doutorado em Psicologia da UCDB. Além do grupo, o trabalho também contou com a participação dos acadêmicos de Medicina, Farmácia e Enfermagem da UEMS que analisaram a saúde física dos trabalhadores; e envolveu a Secretaria Municipal de Saúde de Aquidauana e a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) de Mato Grosso do Sul, além de receber incentivo da Fundação de Apoio ao Desenvolvimento do Ensino, Ciência e Tecnologia do Estado de Mato Grosso do Sul (Fundect).

Segundo Liliana, os resultados obtidos com o trabalho são de suma importância para fomentar políticas públicas relacionadas à saúde mental voltadas para os trabalhadores pantaneiros. “Pelo difícil acesso à essas regiões, esse tipo de pesquisa nunca havia sido feita, por isso não havia dados precisos sobre a situação da saúde mental das pessoas que ali vivem e trabalham. A partir do nosso estudo, tenho certeza que podemos embasar os órgãos de saúde para que eles possam fazer intervenções e melhorar a qualidade de vida dessas pessoas. A princípio, sugerimos uma equipe volante que vá até as fazendas”, pontou Liliana.